Atualmente, tudo está se tornando digital, e isso inclui nosso dinheiro. Em vez de usarmos cédulas ou moedas, é cada vez mais comum optarmos por transações virtuais ao redor do mundo. Além de ser mais prático, também oferece maior segurança em relação a roubos físicos. No entanto, nem todo tipo de dinheiro digital funciona da mesma maneira ou oferece os mesmos benefícios.
Precisamos ter isso em mente para o bem da nossa privacidade e autonomia financeira: dinheiro eletrônico não é o mesmo que criptomoedas. Podemos dizer que as criptomoedas são apenas um tipo de dinheiro eletrônico, que é uma categoria mais ampla. O dinheiro eletrônico, ou e-money, inclui formas digitais de moeda usadas para transações online e que são armazenadas em dispositivos eletrônicos, como contas bancárias, computadores ou carteiras digitais. Dentro dessa categoria estão as criptomoedas, transferências com moedas digitais tradicionais (como reais ou dólares), Moedas Digitais emitidas por Bancos Centrais (CBDCs) e outros serviços de pagamento digital, cada um com suas próprias tecnologias, regulamentos e usos específicos.
Um ponto chave para diferenciar esses tipos de dinheiro eletrônico é a questão da centralização(ou não). O e-money pode ser centralizado, como no caso das moedas tradicionais e das Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs), onde uma autoridade central, como o governo ou um banco, controla a emissão e as regras. Já as criptomoedas são descentralizadas, com transações e governança sendo geridas por uma rede distribuída, sem a necessidade de uma autoridade central.
Um pouco de história
David Chaum, um conhecido criptógrafo e pioneiro cypherpunk, é amplamente reconhecido como o criador do dinheiro eletrônico. Em 1983, ele apresentou o artigo “Blind Signatures for Untraceable Payments“, que serviu de base para o desenvolvimento do primeiro sistema de dinheiro eletrônico público, chamado Ecash. A empresa Digicash foi responsável por gerenciar esse dinheiro eletrônico anônimo até sua falência em 1998 — mas esse foi apenas o início dessa revolução tecnológica.
Ao longo dos anos, outros importantes avanços surgiram. Entre 1996 e 2009, o e-gold, uma moeda digital lastreada em ouro, conquistou milhões de usuários antes de ser fechado pelo governo dos EUA. Em 1997, a Coca-Cola inovou ao permitir pagamentos móveis em suas máquinas de venda automática, e em 1998 o PayPal lançou seu serviço baseado em dólares americanos. No entanto, todos esses sistemas dependiam totalmente de bancos e governos, pois o dinheiro ainda tinha uma origem centralizada: os bancos centrais nacionais.
O cenário mudou significativamente com o surgimento do Bitcoin em 2009, que trouxe à tona as moedas digitais descentralizadas. Essas criptomoedas se destacam por sua resistência à regulamentação governamental, já que não há uma entidade central controladora. Em outras palavras, não existe uma empresa ou grupo específico que gerencie seu funcionamento; a rede é mantida por uma comunidade global de computadores, geridos por seus próprios proprietários. Esse modelo garante que nenhuma autoridade centralizada possa controlar a moeda, tornando-a menos suscetível à censura ou manipulação.
Benefícios da descentralização
As moedas tradicionais, sejam físicas ou digitais, são emitidas e regulamentadas por governos, o que significa que seguem as leis e regras impostas por essas autoridades em todas as suas etapas. Plataformas como PayPal, Venmo, e instituições financeiras que operam com moedas nacionais (como o Real, Dólar, Euro, etc.) precisam obedecer a uma série de normas e restrições, e muitas vezes impõem suas próprias políticas. Nesse contexto, a privacidade e o controle dos usuários são bastante limitados.
Uma das principais vantagens das criptomoedas em relação ao dinheiro eletrônico fiduciário tradicional é o maior nível de privacidade e controle que oferecem aos usuários. As transações são realizadas de forma pseudônima, proporcionando mais sigilo em comparação aos sistemas bancários convencionais, onde informações pessoais são exigidas e monitoradas. Além disso, os usuários têm um controle mais direto sobre seus fundos, uma vez que possuem as chaves privadas de suas carteiras digitais. Isso contrasta com o dinheiro fiduciário, que é gerido por instituições financeiras, as quais podem bloquear ou restringir o acesso aos recursos.
As criptomoedas também se destacam pela flexibilidade em acessibilidade e uso. Elas permitem transferências globais sem a necessidade de intermediários, comumente resultando em taxas mais baixas e transações mais rápidas do que os métodos tradicionais de pagamento internacional. Isso é especialmente vantajoso para pessoas em regiões com acesso limitado a serviços bancários ou para quem busca independência dos sistemas financeiros tradicionais.
Mais autonomia, menos censura
Embora as criptomoedas sejam projetadas para operar de forma descentralizada, elas ainda podem enfrentar vulnerabilidades, incluindo manipulação ou censura, especialmente em redes que dependem de intermediários para validar transações. Mineradores e validadores, por exemplo, poderiam conspirar para bloquear transações específicas ou priorizar outras, comprometendo a integridade e o propósito original do sistema descentralizado.
Em suma, a grande vantagem das transações descentralizadas reside na liberdade e no controle que elas proporcionam aos usuários. Ao manter suas chaves privadas, você é o único responsável pelos seus fundos, sem depender de intermediários ou instituições financeiras que possam limitar, congelar ou manipular seus ativos. Esse nível de autonomia protege você de falhas e incertezas no sistema financeiro tradicional, garantindo que seu dinheiro esteja sempre sob seu controle. O futuro, sem dúvida, é descentralizado — um futuro onde o poder está nas mãos do usuário.